O câncer do colo do útero é uma doença que pode ser diagnosticada em seus estágios iniciais com exame ginecológico de rotina, além de ser evitada com uso de preservativo e, mais recentemente, vacina.
A principal causa do câncer do colo do útero é a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido principalmente pelo contato sexual.
A incidência desse tipo de câncer aumenta nas mulheres entre 30 e 39 anos, e atinge seu pico na quinta ou sexta década de vida. Antes dos 25 anos prevalecem as infecções por HPV e as lesões precursoras, que regredirão espontaneamente na maioria dos casos e devem ser acompanhadas regularmente. A incidência é muito alta nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento e mais baixa nos países desenvolvidos, por causa do acesso regular a exames preventivos, como o Papanicolau, que detecta a doença pré-maligna.
O câncer de colo do útero tem início no seu tecido de revestimento e se desenvolve lentamente, com algumas células normais que se tornam pré-cancerosas e, se não tratadas adequadamente, evoluem para um câncer. Essas alterações recebem o nome de neoplasia intraepitelial cervical (NIC). Em algumas mulheres, elas desaparecem sem necessidade de tratamento, porém, dependo do estágio, é necessário tratamento cirúrgico.
Há dois tipos principais de câncer do colo do útero: os carcinomas de células escamosas, que representam entre 80% e 90% dos casos, e os adenocarcinomas, de 10% a 20% do total.

Colo uterino normal Seta apontando lesão no colo uterino
Prevenção e Fatores de risco
1- Infecção por HPV: é o mais importante fator de risco.
O HPV é uma família com cerca de 200 tipos de vírus, alguns causam verrugas genitais (condiloma) e outros causam o câncer do colo do útero, os chamados HPVs de alto risco.
Pelo menos 13 tipos de HPV estão associados a lesões precursoras (pré-malignas), chamados também de oncogênicos, apresentando maior risco ou probabilidade de provocar infecções persistentes de colo uterino. Dentre os HPV de alto risco oncogênico, os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero.
A transmissão do vírus se dá por contato direto com a pele ou mucosa infectada. A principal forma é pela via sexual, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Também pode haver transmissão durante o parto. Não está comprovada a possibilidade de contaminação por meio de objetos, do uso de vaso sanitário e piscina ou pelo compartilhamento de toalhas e roupas íntimas.
O risco de infecção pelo HPV é maior em quem tem início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais, relações sexuais sem preservativo ou uso de contraceptivos orais.
2- Infecção por HIV: o vírus da Aids diminui as defesas do organismo e reduz a capacidade dele de combater o vírus e o câncer em seus estágios iniciais.
3- Tabagismo: mulheres fumantes têm duas vezes mais risco de ter câncer do colo do útero do que aquelas que não fumam.
4- Idade: a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente.
Sinais e Sintomas
Em seus estágios iniciais, o câncer do colo do útero geralmente não apresenta sintomas.
Nos casos mais avançados os principais sintomas são:
- Secreção, corrimento ou sangramento vaginal incomum.
- Sangramento leve, fora do período menstrual.
- Sangramento ou dor após a relação sexual ou exame ginecológico.
- Corrimento vaginal, às vezes fétido.
- Dor em região de baixo ventre (pélvica).
- Dor nas costas, principalmente em região lombar.
Tratamento do Cancer de Colo de Útero
As opções de tratamento para o câncer do colo do útero dependem do estágio da doença e são: cirurgia e quimioterapia e radioterapia.
O tratamento cirúrgico compreende a remoção apenas da lesão do colo do útero (conização ou traquelectomia) ou a remoção completa do útero (histerectomia total). Em alguns casos, ela pode ser feita por via minimamente invasiva, ou seja, robótica ou laparoscopia.
A conização é realizada nos casos em que não há lesão invasiva (lesões pré-malignas ou carcinoma in situ) ou quando não podemos mensurar o tamanho tumoral com o exame ginecológico nos casos com diagnóstico de lesão invasiva (Estadio IA). Nessa cirurgia fazemos a retirada de uma porção do colo do útero em forma de cone, seja com bisturi frio ou com alça de ressecção (CAF – cirurgia de alta frequência).
Traquelectomia radical tem indicação restrita a mulheres que desejam preservar a fertilidade e tem diagnóstico de carcinoma de colo uterino (Estadio IA e IB1). Pode ser realizada cirurgia via vaginal, aberta ou laparoscópica, com retirada do colo uterino, terço superior da vagina e paramétrios e biópsia do linfonodo sentinela ou linfadenectomia pélvica bilateral, finalizando com anastomose do corpo do útero à vagina.
A histerectomia total pode ser realizada de forma simples ou radical.
A histerectomia simples consiste na retirada do útero, colo do útero e trompas, podendo manter os ovários nas pacientes pré-menopausadas. Esse tratamento é indicado para tumores com estádio IA1. A cirurgia pode ser realizada via vaginal, abdominal ou laparoscópica.
A histerectomia radical consiste na retirada do útero, colo do útero, terço superior da vagina, paramétrios, trompas e linfonodos pélvicos, seja por biópsia de linfonodo sentinela (Estadio IA2) ou linfadenectomia (Estadio IB1, IB2 e IIA1). Pode-se preservar os ovários nas pacientes pré-menopausadas. Essa cirurgia pode ser realizada via abdominal ou laparoscópica.
À partir do estadiamento IIA2, realiza-se tratamento exclusivo com quimioterapia e radioterapia, com intuito curativo, sendo indicada cirurgia apenas nos casos de ausência de resposta ao tratamento ou se houver recidiva do tumor.
Em alguns casos de recidiva pélvica tumoral, pode ser necessária a realização de exenteração pélvica, que consiste na histerectomia radical seguida da retirada da bexiga e/ou reto, a depender do acometimento por tumor desses órgãos.
A quimioterapia é uma modalidade de tratamento que utiliza medicamentos específicos para a destruição das células cancerosas, com o objetivo de diminuir ou parar a atividade do tumor. A aplicação da quimioterapia é definida pelo médico oncologista clínico.
A radioterapia é um tratamento que utiliza a radiação para destruir ou impedir o crescimento das células do tumor, controlar sangramentos e dores e reduzir tumores que estejam comprimindo outros órgãos, realizado pelo médico radioterapeuta.
A incorporação do agente anti-VEGF (bevacizumabe) tem sido capaz de estender a sobrevida das pacientes com recidiva do tumor e terapias imunológicas, como inibidores de checkpoint, estão sendo exploradas em casos avançados.
É importante considerar que o tratamento do câncer cervical deve ser individualizado, levando em conta a extensão da doença, o desejo de preservação da fertilidade e os recursos locais disponíveis.